terça-feira, 17 de maio de 2016

Da solidão...

A solidão é algo inerente à experiência humana. Sozinhos nascemos e sozinhos morremos. Durante a vida, contudo, é possível iludir-se. Nos amores, nas companhias, nas amizades e nas distrações. Vez por outra, contudo, a verdade nos cai irrefutável.
Não consigo dormir e me vejo sentado neste apartamento vazio tocando as mesmas músicas de sempre no violão. Abro a janela para ter a companhia da cidade. Me sinto sem forças e não sei o quanto valho. Não sei do que sou capaz. Não consigo dormir nem consigo acordar. Tampouco consigo me manter acordado e escrevo estas palavras apenas na esperança de conseguir descansar para poder enfrentar o dia que se avizinha, cada vez mais próximo com o passar das horas. Tenho vontade de fugir e abandonar tudo. Não suporto as expectativas sobre mim. A sensação de dever não-cumprido. A sensação de fracasso. A sensação de não poder dividir esse fracasso egoísta todo meu.
Nunca confiei muito nas pessoas, eu acho. Acho que tenho mais capacidade de confiar em estranhos, ou não publicaria coisas nesse blog. Sempre fui muito calado, não sei bem se para me defender ou por escolha. Provavelmente um pouco dos dois e escolhi me defender através do silencio. Aprendi a sofrer calado; essa coisa de dividir o sofrimento com os outros nunca fez muito sentido para mim, que sempre gostei de ficar sozinho. Lembro de brincar muito com amigos quando criança e progressivamente brincar cada vez mais sozinho. Acho que nunca me dei conta, mas, de fato, todas as minhas brincadeiras são realizadas sem companhia.
O outro é uma obrigação. Um dever. Uma necessidade, mais do que uma escolha. O foda é que o EU é o OUTRO. O sujeito é uma ilusão.
Frase. Frase. Frase. Frase.
Acho que perdi um pouco da fé em mim mesmo. Preciso de alguém que acredite em mim. Que me diga que eu consigo quando eu acho que não consigo. O pior é que esses alguéns existem, mas os sinto inacessíveis. Como dividir um sofrimento banal com alguém que sofre tanto por mim? Que arrisca tanto por mim? Qual o direito que eu tenho de importuná-la com minhas levianidades?
Enfim, sigo na angústia. Sustento o quanto posso, sublimo o quanto consigo.

Se não tenho voz, escrevo. Como sempre, o sofrimento é incalável.

Um comentário:

  1. Impossível escrever aqui o tanto de sensações que esse texto me trouxe! Em muitas coisas me vi. Em outras queria que pudesse se ver melhor. E em outras pensei que talvez eu aja igual a você: negando as próprias virtudes (embora eu não saiba bem a serventia das virtudes). A única coisa que posso dizer é que esse texto me passou a sensação de que você é, sim, bem mais do que pensa. O mundo é torto, meu caro. Teu sentimento é uma flecha em linha reta, cortando tudo e deixando sangrar o rastro. Que se tinja o que for preciso!

    Um forte abraço!!

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