Que dizer do tempo que já não tenha sido dito em outro momento? Este tempo que não para ou que nunca começou (como saberíamos?). De qualquer forma, me peguei hoje a pensar: que é o tempo? Paradoxalmente, me sinto preso em um momento que não passa e, para o meu desespero, no entanto, parece se acelerar cada vez mais depressa. Me sinto preso dentro de um trem a toda velocidade mas desconheço minha situação. Dentro do trem está tudo calmo e sereno mas do lado de fora o vento corta violentamente as suas ferragens. Para onde vai esse trem? Estaria em rota de colisão? Como pará-lo? Ou, mais importante, me parece, como assumir o controle do seu destino?
São 2 da manhã e uma tosse violenta não me deixa dormir. De fato, Heidegger estava certo: estamos em maior conexão com o tempo quando imersos no tédio.
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
terça-feira, 16 de setembro de 2014
Do porte de arma...
Segurança é produto de uma sociedade igualitária, mas do ponto de vista social e cultural. Não do bélico.
terça-feira, 15 de julho de 2014
sábado, 5 de julho de 2014
Do abandono...
Deixaste, amor, o leite fora da geladeira
Azedou
Deixaste, amor, a pasta sem tampa
Secou
Deixaste, amor, a comida no fogo
Queimou
O coração que deixaste sem amor, amor
Gelou
Deixa, portanto, a minha vida. O inverno está aí, e de frieza já estaremos fartos.
Azedou
Deixaste, amor, a pasta sem tampa
Secou
Deixaste, amor, a comida no fogo
Queimou
O coração que deixaste sem amor, amor
Gelou
Deixa, portanto, a minha vida. O inverno está aí, e de frieza já estaremos fartos.
quinta-feira, 12 de junho de 2014
Da reflexão forçada...
As coisas que surgem
Nem todas tem nome
A maioria, inclusive
É sem sobrenome
Chegam assim
Sem saber o que são
Quando dão por si
Aqui já estão
Menos significante
Mais significado
Mais agonizante
Menos equilibrado
Não sei se liberdade
É sinônimo de incerteza
Sei que gosto de ti
E faço o que for
Pois paixão sem nome
Não é menos amor
Nem todas tem nome
A maioria, inclusive
É sem sobrenome
Chegam assim
Sem saber o que são
Quando dão por si
Aqui já estão
Menos significante
Mais significado
Mais agonizante
Menos equilibrado
Não sei se liberdade
É sinônimo de incerteza
Sei que gosto de ti
E faço o que for
Pois paixão sem nome
Não é menos amor
quinta-feira, 20 de março de 2014
Das mulheres...
Há um tempo que eu tenho essa teoria e aproveitando a visita da fada da insônia resolvi sentar aqui e ver se escrever os meus pensamentos pode me retornar o sono como o fazia outrora.
Toda mulher tem uma coisa. É sempre uma e não mais.
Veja bem, toda mulher tem várias coisas, mas existe sempre aquela que há de unificar todas as outras coisas. Aquela característica que se sobressai à todas as outras e que faz com que você se apaixone perdidamente, ou não. Aquela idiossincrasia que te faria atravessar um mar a nado com os pés amarrados. Aquele detalhe que mexe com o seu interior sabe-se lá por que diabos.
Perceba que Maria tem um sorriso lindo, umas pernas de enlouquecer qualquer cristão e uma voz doce de jabuticaba. Mas aquela pinta no rosto... Puta que pariu, aquela pinta mexe comigo.
Joana tem os cabelos mais lindos que já vi e olhos que penetram fundo como a perscrutar a alma incauta. Mas aqueles lábios... Puta que me pariu, aqueles lábios não existem.
Veja bem, cada mulher é infinita. Cada indivíduo enxergará cada mulher de uma forma diferente e verá o "uma coisa" diferente. Assim, existe a Joana dos lábios para um e a Joana das sobrancelhas para outro. Pode ser a Maria que pronuncia os "R"s de um jeito engraçado ou a Maria que já leu todos os livros do Simenon. Invariavelmente, no entanto, todas terão A coisa. Pode ser algo pequeno ou grande, realmente não importa. A questão é apenas que essa coisa identifica a mulher no meio de todas as outras. É como aquela pequena parcela de individualidade inexorável; uma impressão digital da alma, vá lá, se quisermos ser poéticos. É a gota d'água que faz o copo transbordar; é o golpe de misericórdia no coração distraído.
Descubra, portanto, A coisa da sua mulher. Pelo tempo em que essa coisa te exercer fascínio, não se preocupe. Você ainda está apaixonado.
Toda mulher tem uma coisa. É sempre uma e não mais.
Veja bem, toda mulher tem várias coisas, mas existe sempre aquela que há de unificar todas as outras coisas. Aquela característica que se sobressai à todas as outras e que faz com que você se apaixone perdidamente, ou não. Aquela idiossincrasia que te faria atravessar um mar a nado com os pés amarrados. Aquele detalhe que mexe com o seu interior sabe-se lá por que diabos.
Perceba que Maria tem um sorriso lindo, umas pernas de enlouquecer qualquer cristão e uma voz doce de jabuticaba. Mas aquela pinta no rosto... Puta que pariu, aquela pinta mexe comigo.
Joana tem os cabelos mais lindos que já vi e olhos que penetram fundo como a perscrutar a alma incauta. Mas aqueles lábios... Puta que me pariu, aqueles lábios não existem.
Veja bem, cada mulher é infinita. Cada indivíduo enxergará cada mulher de uma forma diferente e verá o "uma coisa" diferente. Assim, existe a Joana dos lábios para um e a Joana das sobrancelhas para outro. Pode ser a Maria que pronuncia os "R"s de um jeito engraçado ou a Maria que já leu todos os livros do Simenon. Invariavelmente, no entanto, todas terão A coisa. Pode ser algo pequeno ou grande, realmente não importa. A questão é apenas que essa coisa identifica a mulher no meio de todas as outras. É como aquela pequena parcela de individualidade inexorável; uma impressão digital da alma, vá lá, se quisermos ser poéticos. É a gota d'água que faz o copo transbordar; é o golpe de misericórdia no coração distraído.
Descubra, portanto, A coisa da sua mulher. Pelo tempo em que essa coisa te exercer fascínio, não se preocupe. Você ainda está apaixonado.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
Acaso
Caminhava pela madrugada de Berlim, perdido entre as strasses e o único ponto de referência que possuía: uma alta torre de rádio na Alexander Platz. A brilhante idéia de caminhar pouco agasalhado para o albergue no ar de 1 grau após a falha tentativa de encontrar o trem certo na estação central não parecia mais tão interessante. Apesar de caminhar à noite por ruas desertas de cidades ser um dos meus programas preferidos, a bexiga expandida impedia qualquer desfrutamento. De fato, em quaisquer outras circunstâncias eu estaria adorando a situação. A situação piorava quando eu perdia a torre de vista, ocultada pelos outros prédios, o que me obrigava a seguir apenas o meu senso de direção. Que fique claro que eu me perco até com guia. A caminhada que eu estimei em 10 minutos acabou levando algo em torno de 1h e meia, entre as tantas idas e vindas. Quando eu havia finalmente encontrado os arredores do albergue já passava da meia noite e, virando em uma esquina que anunciava o lançamento do novo video-game de ultima geração algo me chamou a atenção. Era uma igreja linda, e não pude deixar de observá-la por alguns instantes. Me vi dividido entre a bexiga e a beleza da igreja e imaginei que talvez fosse uma boa idéia pedir uns trocados na rua para conseguir pagar o banheiro público e poder admirar com calma aquela maravilha. As constantes viaturas me deixaram inibido para atender às minhas necessidades em uma moita qualquer. Fui até a esquina e comecei a abordar os transeuntes com uma moeda em uma mão e na outra a pergunta: "excuse me, could you change 2 euros for me?". Não consegui deixar de rir dos olhares de reprovação dos casais alemães que apressavam o passo após a minha delicada abordagem. Digamos apenas que não foram poucos. Eventualmente, no entanto, um grupo de texanos se solidarizou com a minha causa e me doou 50 cents. Talvez tenham ficado com pena de meus prováveis problemas mentais quando expliquei que só queria olhar a igreja mas precisava ir no banheiro antes. Resolvida a situação, acendi um cigarro e me acomodei na calçada oposta à igreja. Deitei no chão pra poder vê-la melhor, já que era muito alta. Devo ter passado algo em torno de uma hora com as mãos e as nádegas congeladas tentando descobrir o que tanto me atraíra naquela igreja. Ela era linda e monumental, sim, mas havia algo a mais. Percebi então que não havia deitado exatamente em frente a ela, como planejado. Eu estava um pouco à esquerda, fazendo com que todas as medidas e perspectivas rigorosamente planejadas e tão valorizadas séculos atrás se apresentassem meio enviesadas. Foi então que entendi. A igreja me lembrava ela: a menina do sorriso torto.
Viva o acaso.
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